domingo, 17 de maio de 2009


Livro: a troca
Lígia Bojunga Nunes
Para mim, livro é vida; desde que
eu era muito pequena os livros
me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora,
livro era tijolo; em pé, fazia parede;
deitado fazia degrau de escada; inclinado,
encostava um no outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me
espremia lá dentro para brincar de morar
em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo
(de tanto olhar para as paredes). Primeiro,
olhando desenhos, depois decifrando palavras.
Fui crescendo e derrubando telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E
quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu
ia me lembrando de consertar o telhado ou de
construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora
aumentava a minha imaginação.
Todo o dia minha imaginação comia, comia e comia, e de
barriga assim toda cheia, me
levava pra morar no mundo inteiro: iglu,
cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto,
o livro me dava.
Foi assim que devagarinho, me habituei com
essa troca tão gostosa que - no meu jeito de
ver as coisas - é a troca da própria vida;
quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.

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