domingo, 30 de agosto de 2009

Cap. 1 Trabalho de Conclusão Julici Lúcia Lippert Altenhofen (2005)
“A MAIOR MÁGICA DE HARRY POTTER: FORMAR JOVENS LEITORES”

1.A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
1.1 O que é ler?
Aprender a ler é antes de mais nada aprender a ler o mundo, compreender o seu texto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa manipulação dinâmica que vincula linguagem e realidade. Ademais, a linguagem da leitura é um ato de educação e educação é um ato profundamente político. (Antônio Joaquim Severino)

Todo indivíduo é um ser no mundo, capaz de pensar, aprender, ensinar, criar e fazer leituras do mundo e da vida. Isto faz com que seja capaz de decodificar as letras, de ler fonemas, de ler palavras, de ler frases, de ler livros e seguir fazendo perguntas necessárias para a vida e a construção da vida em sociedade. Aprender a ler o mundo e a palavra escrita é essencial para mudar as pessoas e para estas mudarem o mundo. Aprender a ler a palavra escrita deve ser um ato da continuidade da leitura que aprendemos a fazer da vida, deve ser um ato de adentrar nos textos, criar uma disciplina intelectual que viabilize um saber vivo, fixado de forma a levar o indivíduo a ter a capacidade de interagir com o mundo de forma criativa, consciente e, acima de tudo, como sujeito capaz de reescrever o mundo, ou seja, transformá-lo através de sua prática consciente.
Teresa Colloner e Anna Camps (2002) acreditam que ler “é a capacidade de ler um texto escrito”. Já a escola contradiz esse conceito com bastante frequência, quando baseia o ensino da leitura numa série de atividades que, supostamente, mostram aos alunos como se lê, sem ter como prioridade levá-los a entender o que diz o texto. Segundo as autoras:

(...) É muito comum, por exemplo, escolherem-se como materiais de leitura pequenos fragmentos de textos ou palavras soltas em função das letras que a compõem, estudarem-se as letras isoladas e segundo uma ordem de aparição preestabelecida, ou se mandar ler em voz alta com atenção centrada naqueles aspectos que serão valorizados e corrigidos prioritariamente: a precisão na soletração, a pronúncia correta, a velocidade de “fusão” dos pronunciados, etc. (...) (p. 29)

Ainda, segundo as autoras, tais práticas educativas estão muito distantes da busca do significado, são consequência de uma concepção leitora que está em vigor há séculos e só foram colocadas em questão nas últimas décadas, pelos avanços teóricos nesse campo. Coloner e Camps acreditam que a descrição atual da leitura realiza-se no interior do marco geral que explica como os seres humanos interpretam a realidade, como processam a informação. Dentro dessa descrição, a concepção tradicional da leitura é vista como um modelo de “processamento ascendente”:

Tal modelo supõe que o leitor começará por fixar-se nos níveis inferiores do texto (os sinais gráficos, as palavras) para formar sucessivamente as diferentes unidades lingüísticas até chegar aos níveis superiores da frase e do texto. Para seguir esse processo, o leitor deve decifrar os signos, oralizá-los mesmo que seja de forma subvocálica, ouvir-se pronunciando-os, receber o significado de cada unidade (palavras, frases, parágrafos, etc.) e uni-los uns aos outros para que sua soma lhe ofereça o significado global. (p. 30)


As autoras acreditam que, atualmente, alguns desses mecanismos não fazem mais parte do processo de leitura, uma vez que o significado não é recebido através da oralização. Existem outros mecanismos que são necessários para se entender um texto e que são chamados pelas autoras de “processamento descendente”. Estes mecanismos não atuam como os anteriores, da análise do texto à compreensão do leitor e sim da mente do leitor ao texto e permitem a ele resolver as ambiguidades e escolher entre as interpretações possíveis daquilo que está sendo lido. Por outro lado, o significado de um texto não é resultado das palavras que o compõem, pois os significados se constroem uns em relação aos outros já que a aceitação de cada palavra depende da frase em que aparece. A estrutura da frase também é responsável pelo significado, pois um parágrafo pode conter a ideia central de um texto, ou constituir um simples exemplo segundo sua articulação no discurso. Coloner e Camps acreditam que uma mensagem verbal jamais oferece o total da informação. Segundo elas, é o emissor que constrói, com as informações que ele julga necessárias, seu significado e também procura ser entendido pelo receptor que deve raciocinar para captar significados que, muitas vezes, não estão no texto (relações implícitas). Dessa forma, o leitor é considerado como um sujeito ativo que utiliza seus conhecimentos (variados) para obter informação do escrito e reconstruir o significado do texto ao interpretá-lo de acordo com seus próprios conceitos e a partir de seu próprio conhecimento de mundo que, segundo Paulo Freire, antecede a leitura da palavra.

A relação entre o texto e o leitor durante a leitura do texto é qualificada por Coloner e Camps como dialética, pelo fato de o leitor basear-se em seus conhecimentos para interpretar o texto, extrair um significado, criar, modificar, elaborar e incorporar novos conhecimentos em seus esquemas mentais, já que o leitor interage verbalmente com o autor por meio do texto escrito. A leitura é, assim, o resultado da produção realizada pelo leitor, tendo em vista seus objetivos e toda a bagagem de conhecimentos anteriores. Se não fosse assim, não seria interlocução, seria apenas o reconhecimento das palavras, mas sem compreensão. Com base nessa reflexão, as autoras lançam o seguinte conceito de leitura:

Em suma, ler, mais do que um ato mecânico de decifração de signos gráficos, é antes de tudo um ato de raciocínio, já que se trata de saber orientar uma série de raciocínios no sentido da construção de uma interpretação da mensagem escrita a partir da informação proporcionada pelo texto e pelos conhecimentos de leitor e, ao mesmo tempo, iniciar outra série de raciocínios para controlar o progresso dessa interpretação de tal forma que se possam detectar as possíveis incompreensões produzidas durante a leitura. (p. 31)

Segundo as autoras, ler é um ato de raciocínio. Já Richard Bamberger (2002) acredita que ler é um processo perceptivo que se amplia num processo reflexivo:

Processo complexo, a leitura compreende várias fases de desenvolvimento. Antes de mais nada é um processo perceptivo durante o qual se reconhecem símbolos. Em seguida, ocorre a transferência para conceitos intelectuais. Essa tarefa mental se amplia num processo reflexivo que as idéias se ligam em unidades de pensamento cada vez maiores. O processo mental, no entanto, não consiste apenas na compreensão das idéias percebidas, mas também na sua interpretação e avaliação. Para todas as finalidades práticas tais processos não podem separar-se um do outro; fundem-se no ato da leitura. (p. 23)

Portanto, a habilidade de ler e entender não consiste na capacidade bem treinada de “combinar sons em palavras e palavras em unidades de pensamento”, mas no “reconhecimento imediato de grupos armazenados de palavras” (p. 13). O ato de ler é definido, através de pesquisas nesse campo, como um processo mental de vários níveis e que contribui muito para o desenvolvimento do intelecto. O processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais exige grande atividade do cérebro, que coloca em funcionamento um número infinito de células cerebrais durante o processo de armazenagem da leitura.

1.2 Por que ler?
“A informação está cada vez mais ao nosso alcance, mas a sabedoria, que é o tipo mais precioso de conhecimento, só pode ser encontrada nos grandes autores de literatura. Esse é o motivo pelo qual devemos ler.” (Harold Bloom)


Aprender a ler a palavra escrita deve ser um ato da continuidade da leitura que aprendemos a fazer da vida. Deve ser um ato de adentrar nos textos, de criar uma disciplina intelectual que viabilize um saber vivo, fixado de forma a levar o indivíduo a ter a capacidade de interagir com o mundo de forma criativa, consciente e, acima de tudo, como sujeito capaz de reescrever o mundo.

Ler proporciona o crescimento pessoal e estimula o raciocínio, pois quem lê costuma ser mais ativo e desenvolve idéias próprias. Em entrevista à revista Veja (25 de agosto de 2004) o americano Mark Edmundson, professor de língua inglesa na Universidade de Virgínia e autor do livro “Por que Ler ?”, desenvolve a tese de que a leitura é a “Segunda chance que a vida nos oferece para o nosso crescimento pessoal”. Durante a infância e a adolescência, segundo ele, passa-se por um processo de socialização, aprende-se o que é certo e o que é errado com os pais e os professores e se começa a agir de acordo com o senso comum. Depois, é a leitura que permite desenvolver idéias próprias, conceitos e valores. Sem ela, segundo o autor, “o homem continua sendo um carneiro que segue o rebanho” (p. 96)

Richard Bamberger (2002) afirma que os livros, durante séculos, vêm sendo os portadores do conhecimento de uma geração para a outra, são as pedras angulares da vida intelectual e emocional. Para os jovens leitores, os bons livros correspondem às suas necessidades internas de modelos e ideais, de amor, segurança e convicção. Ajudam a dominar os problemas éticos, morais e sociopolíticos da vida, proporcionando-lhes casos exemplares, auxiliando na formulação de perguntas e respostas correspondentes.

A leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sintático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar com o homem. (...) A leitura favorece a remoção das barreiras educacionais de que tanto se fala, concedendo oportunidades mais justas de educação principalmente através da promoção do desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual, e aumenta a possibilidade de normalização da situação pessoal de um indivíduo. (Bamberger, 2002, p. 10, 11)


A sociedade do futuro é vista como a “sociedade do aprendizado”, uma vez que este deverá ser contínuo, pois irá garantir a continuidade do desenvolvimento econômico. Segundo o autor Harold Bloom (2001), o ser humano deve continuar a ler por iniciativa própria e que o porquê da leitura deve ser a satisfação de interesses pessoais. O autor considera a leitura como hábito pessoal e não como prática educativa, já que as leituras feitas podem ser diferentes, como, por exemplo, ler Shakespeare ou a Bíblia, sendo a busca, no entanto, a mesma. Ele finaliza reforçando a idéia que: “Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação, e a transformação final tem caráter universal.” (p. 17)
Atualmente, não basta a pessoa completar sua educação escolar. O progresso da ciência e da tecnologia se processa num ritmo tal que a instrução que ministramos hoje será considerada insuficiente amanhã. Por esse motivo, a educação ou a auto-educação permanente é a tarefa do futuro. Segundo Bamberger, é muito importante o papel dos livros nessa auto-educação.

Primeiro há a necessidade de satisfazer os interesses, necessidades e aspiração individuais através da seleção individual do material de leitura. Todo o ser humano pode ser ajudado pelos livros a se desenvolver a sua maneira, pode aumentar sua capacidade crítica e aprender a fazer escolha entre a massa da produção geral dos meios de comunicação. (…) os livros são indispensáveis no sentido de aprofundar essa noção e promover a pesquisa do assunto por conta própria. (2002, p. 12)


A atividade da leitura amplia o repertório de informações. Quem lê, passa a ter novas e diferentes ideias sobre as coisas, as pessoas, os acontecimentos, o mundo em geral. Dessa forma, a leitura representa uma oportunidade muito significativa de aquisição de conhecimento, que pode ser utilizado na escrita, uma vez que a leitura caminha lado a lado com o ensino da escrita. A prática intensa da leitura na escola é, sobretudo, necessária porque ler ensina a ler e a escrever.

Segundo os PCN’s (1997), o trabalho com a leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores (não se trata de escritores profissionais e sim de pessoas capazes de escrever com eficácia), visto que a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura que é um “espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras” (p. 53). A leitura é que nos fornece a matéria-prima para a escrita: (o que escrever) e contribui para a constituição de modelos: (como escrever). Ainda, segundo os PCN’s, a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a língua, desde as características do gênero ao sistema da escrita. Como prática social, “a leitura é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal”. (p. 57)

1.3 O papel da escola e do professor no processo de formação de leitores

Deveria ser objetivo do professor despertar em cada criança um amor pela leitura, um desejo que permanecerá com ele durante todos os anos de sua vida. Se uma criança tiver isso, ela adquirirá a parte mecânica sem dificuldade. (E. Mayne)

“A escola deve ensinar a ler” é o que todos dizem, a começar pela lei. É na escola que podemos identificar a mola motora do crescimento do público leitor, mas é também ela que nos mostra um número alarmante de alunos e alunas que não têm o hábito da leitura e nem dominam a linguagem escrita.

A realidade escolar atual mostra a necessidade de melhorar a qualidade da educação no país. Pesquisas recentes revelam que, no ensino fundamental, o eixo da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita, pois o grande número de repetências nas séries iniciais está diretamente ligado à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. O secretário estadual da educação, José Fortunati, em entrevista ao Jornal NH (08 de abril de 2005), afirma que: “Muitas crianças até sabem ler, mas não sabem entender, interpretar o que estão lendo” (p. 03), reforçando o que já dissemos anteriormente, que não basta saber ler mecanicamente. É essencial entender o que está escrito.

Uma constatação geral é que o ensino da língua não vai bem e esta é uma questão de domínio comum. A leitura ocupa um lugar de destaque na vida escolar. É resultado da alfabetização e sua prática ocupa toda a carreira escolar do aluno – em todas as disciplinas. O que acontece na atualidade é que professores de Ciências, Geografia e História se alarmam pelo fato de seus alunos não lerem. Não fazem nada, no entanto, para remediar a situação. Permanecem à espera que o professor de Língua Portuguesa resolva o problema. Isto, além de agravar a situação, faz com que estes “professores” não ajudem a garantir a participação plena de seus alunos na sociedade letrada. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, todos os professores, indiferente da disciplina que lecionam, são também professores de leitura. Richard Bamberger (2002) deixa bem claro o que deve ser feito para mudar essa realidade.


(…) todas as autoridades do Estado, da comunidade e da escola, todos os professores, pais e pedagogos precisam estar seriamente convencidos da importância da leitura e dos livros para a vida individual, social e cultural, se quiserem contribuir para melhorar a situação. (p.9)

É importante lembrar que nosso sistema educacional está diante de novos paradigmas e nunca, como agora, se valorizou tanto a leitura. Não se pode culpar somente a escola e o professor pelo fracasso escolar dos brasileiros, existem outros fatores que contribuem para essa situação. Segundo José Moraes (1996):

As razões dos fracassos na aprendizagem da leitura não estão todas ligadas à sociedade e à escola. Longe disso. Existem certamente distúrbios de aprendizagem da leitura que estão associados a deficiências cognitivas da própria criança. A escola e a sociedade não são responsáveis por isso. (p.24)

Acredita-se que toda a criança entra na escola com a esperança de logo ler, ou, quando já sabe, aperfeiçoar sua leitura. Algumas crianças não tardam a ver satisfeita essa expectativa, outras são obrigadas a esperar muito tempo, e algumas desistem de esperar.
A escola é a mais importante instituição na introdução do aluno nas práticas de uso da escrita na sociedade, dando assim uma responsabilidade muito grande para o professor que é formador e também professor de leitura, indiferente da disciplina que ele lecione. A leitura é uma atividade-elo que transforma os projetos de um professor em projetos interdisciplinares que podem ser trabalhados na escola em diferentes séries e disciplinas. A função primordial da escola não é a de informar o aluno, mas a de lhe fornecer os instrumentos necessários para que ele consiga compreender as informações (complexas ou não) do mundo atual e para que ele consiga assumir aos poucos o controle de sua aquisição de saber e de sua formação.
A função do professor não é só a de despertar os alunos para a leitura. É preciso também que demonstre fé na importância dos livros, assim como seu entusiasmo por eles. Difícil é descobrir qual o melhor livro: a única forma de o professor conseguir um leque maior de opções é experimentar ler todas as novidades, os livros que saem nas listas das revistas, os que são comentados durante o recreio, os que ficam nas vitrines das livrarias à espera de um incauto que adora capas bonitas e que nem sempre são armadilhas terríveis. O que é certo, é que existe um livro que vai encantar até o mais relutante dos alunos, mas ele precisa ser encontrado.
O professor precisa estar em condições de apresentar livros específicos, portanto é necessário que ele tenha lido um número suficiente de livros. Se o professor quer transformar seus alunos em bons leitores, precisa mostrar a eles que está tomado pelo amor aos livros. Só assim os jovens irão perceber que a leitura não é só um meio para conhecer o mundo. Perceberão também que a leitura poderá levá-los para um mundo mágico. Segundo Marisa Lajolo (2001):

O professor de Português deve dispor de uma noção ampla de linguagem, que inclua seus aspectos sociais, psicológicos, biológicos, antropológicos e políticos. Ele deve ser usuário competente da modalidade culta da Língua Portuguesa (...) O Professor de Português deve estar familiarizado com uma leitura bastante extensa da literatura, principalmente da brasileira, da portuguesa e da africana de expressão portuguesa. Freqüentador assíduo dos clássicos, sua opção pelos contemporâneos, pelas crônicas curtas ou pelos textos infantis deve ser, quando for o caso, mera preferência. Em outras palavras: o professor de Português pode não gostar de Camões, nem de Machado de Assis. Mas precisa conhecê-los, entendê-los e ser capaz de explicá-los. (p. 21)


A autora segue afirmando que o professor de Português deve estar familiarizado com a história do ensino da Língua Portuguesa no Brasil, com a história da alfabetização, da leitura e da literatura na escola brasileira, para assim poder perceber que o processo da leitura não começa nem se encerra nele, mas poderá dar continuidade aos esforços dos educandos que o precederem, como ainda sinalizar o caminho dos que vão sucedê-lo.

Desde as séries iniciais, é muito importante que os professores percebam que o sistema da língua escrita é um sistema complexo, e que devem oferecer para as crianças uma multiplicidade de caminhos e estratégias para que possam fazer uso delas, contribuindo assim para que elas vejam a leitura não como um processo inseguro de mudar um código de um lugar para o outro, e sim como um desafio interessante que precisam resolver, para que, assim, saibam o que dizem e como devem dizê-lo. Isabel Solé (1998) escreve:

Aprende-se a ler e escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lendo e escrevendo, tentando e errando, sempre guiados pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido. (p. 61)

A criança, uma vez estimulada a ler e a escrever, vai perceber o quanto isto pode ser útil em seu dia-a-dia. Já Bamberger (2002) acredita que aquilo que leva o jovem a ler não é o reconhecimento da importância da leitura e sim:

Várias motivações e interesses que correspondem à sua personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual. A percepção dessas motivações e interesses esclarece qual é a tarefa do professor: treinar jovens leitores bem sucedidos, apresentando-lhes o material de leitura apropriado de modo que o êxito não somente inclua boas habilidades de leitura mas também o desenvolvimento de interesses capazes de durar a vida inteira. (p.31)


O professor tem que mostrar, através das atividades que realiza, que vale a pena ensinar, aprender e praticar a leitura. Os professores que lembramos e admiramos e que tiveram alguma influência em nossas vidas com certeza são aqueles que demonstraram gostar de suas matérias e conseguiam transmitir esse entusiasmo pelo saber. O educador deve também interessar-se em investigar os mundos por onde seus alunos andaram antes e depois da leitura. Deve esforçar-se em vislumbrar estes mundos, em fazê-los surgir, pode até se encantar com eles.

A personalidade do professor e seus hábitos de leitura são muito importantes para desenvolver os interesses e hábitos de leitura nas crianças. A própria educação do professor contribui de forma essencial para a influência que ele exerce. Segundo Bamberger, durante o treinamento do professor, devem ser tratadas meticulosamente as seguintes áreas:
• Métodos de avaliação do rendimento e do aperfeiçoamento da leitura;
• Formas modernas de trabalho com livros (leitura na classe, leitura em grupo e leitura individual);
• Exame das conclusões do estudo sobre jovens leitores (fases de leitura; tipos de leitores; motivação para a leitura);
• Avaliação da leitura infantil e exame cuidadoso de cada um dos gêneros;
• Introdução a todos os auxílios disponíveis para o trabalho com livros (listas de livros, literatura profissional etc.). (p.75)

O autor fala ainda que aos professores, em exercício, deveria ser oferecida a oportunidade de se informarem regularmente acerca dos livros infantis, juvenis e da moderna pesquisa sobre a leitura, levando-os a participar de reuniões, cursos especiais, trabalhos em grupo e seminários.
O professor também desempenha um papel importante na educação dos pais, prestando-lhes informações nas “conversas com os pais, reuniões” e deixando bem claro para os pais que a função deles como modelo é decisiva, isto é, se os pais gostarem de ler, induzirão facilmente os filhos a ler regularmente. Serão capazes também de esclarecer e de dar informações sobre as leituras de seu filho (a). Bamberger faz uma relação dos conselhos que os professores devem dar aos pais:

1) Contar histórias e ler em voz alta para os filhos com a maior freqüência possível.
2) Organizar uma biblioteca pessoal para o filho, apropriada à sua idade, aos seus desejos, às suas necessidades e à fase de desenvolvimento em que ele se encontra.
3) Instruir os filhos para gastarem parte do seu dinheiro miúdo em livros (Livros de bolso são livros de “dinheiro miúdo”!).
4) Zelar para que se reserve algum tempo para a leitura no maior número de noites possíveis, na qual cada membro da família lerá o seu próprio livro.
5) Participar da leitura dos filhos, isto é, conversar sobre o que estão lendo.
6) Ajudar os filhos a reconhecer que podem aplicar e usar o que lêem; que os livros dão segurança, luz e beleza às suas vidas. (p. 72)


São poucos os pais que realmente seguem esses conselhos. O que encontramos são pais orgulhosos por terem comprado para o seu filho (em 10 ou 12 vezes) um brinquedo (carrinho, boneca), não que estes não sejam necessários. Muitos desses pais, no entanto, não compram livros para seus filhos porque dizem que os mesmos são muito caros. Cabe ao professor orientá-los a estimular o hábito de ler, de comprar livros ou retirá-los nas bibliotecas públicas, que existem em praticamente todos os municípios à espera de pais e filhos leitores. A criança que cresce vendo um livro entre os seus brinquedos vai aprender que aquele objeto lhe é familiar e dificilmente o rejeitará na fase escolar, fazendo dele um companheiro inseparável para o resto da vida.

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